O crime da Samarco/Vale/BHP Billiton ocorreu em 05 de novembro de 2015, destruindo a comunidade de Bento Rodrigues, parte de Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima e também de Barra Longa e suas comunidades, como Gesteira. Além das perdas humanas, com 19 mortos, perdas materiais e ambientais, destruição da Bacia do Rio Doce e parte do Oceano Atlântico.
Depois de 2 anos e quatro meses comunidades inteiras sofrem ainda as consequências do crime. No dai 26 de março, a BBC divulgou laudo sobre os impactos na saúde humana na cidade de Barra Longa, a 60 km de Bento Rodrigues, no município de Mariana. O Instituto Saúde e Sustentabilidade realizou exames em onze pessoas da cidade. As amostras de sangue foram analisadas pelo Laboratório de Toxicologia e Essencialidade de Metais da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da USP.
Os resultados são alarmantes. Das 11 pessoas examinadas, todas apresentaram elevação do nível de níquel no sangue e dez tiveram redução de zinco no organismo. O zinco é fundamental para manter o sistema imunológico e sua carência pode levar a perda do cabelo, problemas de irritação e inflamação na pele e distúrbios neuropsicológicos.
Já o níquel em doses acima do limite, em constante exposição pode provocar alergia, erupções na pele, câncer, estomatite, tonturas, etc. Em Barra Longa, os exames de laboratório constataram que existem pessoas com teor de níquel três vezes acima do limite, ou seja 12,78 microgramas por litro de sangue. A taxa normal seria de 0,12 a 3,9 microgramas.
Em Barra Longa, segundo os estudos, é provável que a contaminação por níquel tenha ocorrido por causa da lama e depois pela poeira. Parte da cidade foi aterrada pela lama que teve que ser removida, num processo de vai e vem sem fim, até que fosse depositada em lugar mais adequado.
Na semana passada, 13/04, o Núcleo de Pesquisa e Vulnerabilidade em Saúde (Naves) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Cáritas Regional Minas Gerais, que é ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou estudo realizado com os atingidos pelo crime da Samarco/Vale/BHP Billitton, acompanhando 271 pessoas das comunidades de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima, Borba, Campinas e Ponte do Gama. O estudo revelou que 30% da população atingida sofre com depressão. Este percentual é cinco vezes maior do que a média nacional, dentro dos parâmetros da Organização Mundial de Saúde. O estudo revela ainda que entre as crianças e adolescentes este índice sobe para 39%. O crime continua produzindo mortes e doenças mentais, psicológicas.
As pessoas atingidas estão sofrendo sérios danos à saúde física e mental. O número de pessoas examinadas é pequeno, mas nos mostra que é preciso aprofundar os estudos ao longo de toda a Bacia do Rio Doce. É preciso um diagnóstico mais aprofundado para conhecer e tratar todas estas questões. A lama não pode continuar matando e produzindo doenças que parecem invisíveis.
Desde 2015 quando ocorreu o crime, o deputado Padre João vem acompanhando, trabalhando e denunciando o descaso das empresas envolvidas em reparar os danos causados às famílias, agricultores familiares, pescadores e ao meio ambiente.
Como membro da Comissão Externa, fez e continua fazendo o trabalho enquanto poder legislativo. Enquanto presidente da Comissão de Direitos Humanos realizou diligência em toda a Bacia, saindo de Regência, no Estado do Espírito Santo, no dia 5 de novembro de 2016, juntamente com o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), na Jornada de Um Ano de Lama e Luta que terminou em Bento Rodrigues, no dia 15 de novembro de 2016.
Padre João constatou que existem muitos problemas e pendências que não foram resolvidas, como por exemplo: a recusa de cadastramento de pessoas atingidas para recebimento de benefícios; impactos sobre a saúde das populações atingidas, discriminação contra a mulher, prejuízo no abastecimento de água potável, desemprego das comunidades, indenização insuficiente às famílias afetadas. Pescadores, areeiros, pessoas que trabalham com artesanato, hoteleiros não foram reconhecidos como atingidos.
A Nova Bento Rodrigues não foi construída até hoje. As famílias da comunidade de Gesteira do município de Barra Longa não foram reassentadas ainda. “Por isso, vamos continuar nossa luta em defesa dos atingidos pela lama da Samarco/Vale/BHP Billiton. Vamos cobrar e denunciar. Chega de morte. Chega de destruição. Chega de violação dos direitos humanos. Chega de impunidade. Pela vida e saúde das pessoas, pela Bacia do Rio Doce, não vamos nos calar. Até hoje ninguém foi punido pelo crime, nem as multas pagas,” lamentou Padre João.