Sempre em defesa da agricultura familiar da segurança alimentar e nutricional dos direitos humanos dos negros e indígenas da mulher da criança e do adolescente

Artigo: “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro e muito menos agradar a dois senhores”, Mt 6,24

Mídias fundamentalistas de denominação católicas comeram do fruto proibido. Aqui faço referência ao texto bíblico do livro de Gênesis, quando a serpente seduz o homem e a mulher para comerem do fruto, em desobediência a Deus. Essa alusão se deve a videoconferência, no dia 21 de abril deste ano, amplamente divulgada por veículos de comunicação do país, onde vários padres e leigos prometeram apoio ao governo federal em troca de verbas para suas emissoras, rádios e TVs.

Semelhante às mídias neopentecostais ou evangélicas fundamentalistas, muitas de segmentos católicos seguem os mesmos princípios, como a Canção Nova, RedeVida, Século XXI, Pai Eterno, Evangelizar, dentre outras. Pelo teor da conversa que se pôde ouvir, em diálogo com o presidente Bolsonaro, elas deixaram se levar pela sedução da “serpente”, vendendo suas emissoras por “trinta moedas”, assim como fez Judas ao entregar Jesus (Mt 26, 14-26)

A reunião repercutiu negativamente no seio da sociedade e na cúpula da Igreja, porque uma posição nesta linha compromete a dignidade de sua missão na terra. A Igreja possui no mundo, pelo Cristo, o múnus sacerdotal de santificar; o múnus profético de anunciar e denunciar toda espécie de injustiça e, ainda, possui o múnus pastoral do cuidado, isto é: zelar pelo povo, como o pastor cuida de suas ovelhas. 

Por tudo que sabemos da política que defende o governo Bolsonaro, não só com suas pautas que ferem com morte o povo brasileiro e que se autodeclara antidemocrático, defensor da volta do regime militar, fascista e genocida e que tem posição clara ao ignorar a pandemia do coronavírus, que mata milhares de pessoas no Brasil e no mundo, nos deparamos com lideranças que deveriam estar do lado do povo e da verdade, unindo-se àquele que em vão pronuncia o nome de Deus. “Deus acima de tudo” como o lema de um governo que oprime e massacra mulheres, negros, índios, trabalhadores e os pobres desta nação.

Em meio a tudo isto, um alento nos traz a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ao publicar, no último dia 6 de junho, uma nota em que se posiciona contrária a estes mercenários do Sagrado. A nota é clara. Afirma que não organizaram e não tiveram qualquer envolvimento com a reunião entre o presidente da República, deputados e representantes de emissoras de denominação católica.

Estas mídias são geridas, conforme a nota, por associações empresariais particulares e, portanto, nem elas e nenhum de seus membros representam a Igreja Católica. E afirma ainda terem recebidos com estranheza e indignação esta notícia de apoio ao presidente em troca de verbas, pois a Igreja não faz barganhas pelo princípio de sua missão evangelizadora e fundamento dos valores da ética e da moral. Além da nota, várias lideranças religiosas se pronunciaram repugnando esta atitude. “Podemos passar por dificuldades, mas sobrevivemos com a graça de Deus e a generosidade das ofertas dos fiéis, que espontaneamente depositam nos cofres das igrejas”, pronuncia um arcebispo.

É um absurdo! É incompreensível para uma mente humana entender que lideranças que se dizem compreender a Palavra de Deus, usam-na para oprimir, ao invés de promoverem a libertação das pessoas, pelo anúncio da verdade. Agem de má-fé para se autopromover e manter suas empresas em nome de Deus. 

O que são estas emissoras senão empresas que manipulam e alienam a boa-fé do povo? Uma coisa é a propaganda de forma lícita, coerente com a verdade, outra coisa é o pacto sujo, mesquinho, visando defender um governo tirano, corrupto, insano e inconsequente como o de Bolsonaro, aproveitando de um oportunismo da grande mídia que, ora apresenta uma oposição objetiva ao presidente. É um pacto com a morte. Me desculpem, mas é a negação do Deus libertador, da Antiga e Nova Aliança, conforme vemos no Evangelho de Mateus 6,24: “Ninguém pode servir a dois senhores. Porque, ou odiará a um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro”. Vocês não podem servir a Deus e às riquezas.

Não podemos fazer das igrejas uma casa de negócios. Devemos zelar pela Casa Comum, como nos pede o Papa Francisco na encíclica Laudato Si. Enquanto cristãos, é a nossa missão cuidar da igreja que somos. Templos vivos do Espírito Santo e tabernáculo da pessoa humana. Esta é a mensagem de Jesus aos vendilhões do templo, de acordo com o evangelista São João (Jo 2, 14-27). Uma palavra que passa pela mente, mas não entra no coração.

A comunicação para a verdade e a paz

A Igreja do Brasil, preocupada com o modelo dos meios de comunicação, fez com que a CNBB lançasse no ano de 1989 a campanha da fraternidade com o tema: “A comunicação para a verdade e a paz”. Foi um chamamento da Igreja à reflexão, para que a verdadeira comunicação dê prioridade aos pequenos, aos marginalizados e empobrecidos. Na oração rezava: “Nós pedimos perdão pela comunicação que aliena, que explora a dignidade humana e inverte os verdadeiros valores humanos e cristãos. […] Faz de cada um de nós e da comunidade profetas criativos no diálogo; corajosos e conscientes no uso dos Meios de Comunicação para concretizar o mandato de Jesus. […] Ajuda-nos a ser coerentes com a Verdade que comunicamos e a Paz que anunciamos”.

Mais de 30 anos depois da campanha da fraternidade, percebemos que até mesmo as mídias, que carregam no nome os preceitos cristãos ou católicos se propõem publicamente, à luz do dia, desvirtuam suas mensagens em troca de publicidades falaciosas e corruptas.

Confira a nota da CNBB na íntegra: https://www.cnbb.org.br/a-igreja-catolica-nao-faz-barganhas-afirma-nota-de-esclarecimento/

Padre João (PT – MG)

Olá, como podemos te ajudar?