Em 1717, três pescadores lançaram suas redes no Rio Paraíba do Sul. Sucessivas foram as tentativas infrutíferas: os materiais da pescaria retornavam vazios ao barco. Em um dos intentos, porém, um corpo de uma imagem de Nossa Senhora foi encontrado. Redes ao rio novamente e, desta vez, a cabeça que formava o todo daquela que hoje conhecemos como Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. Após isso, os pescadores enfrentaram dificuldades para erguer os seus pescados e colocá-los sobre o barco, tamanha a fartura de peixes. Mais de dois séculos depois, uma multidão de 8 mil pessoas lotava a Praça do Carmo em Recife, tratava-se da Missas dos Quilombos, ocasião na qual Dom Helder Câmara rogou a Mariama, a Senhora Negra mãe de todas e todos, por igualdade e dignidade.
Negra Mariama, pedimos pelo seu olhar benevolente. Ensina-nos sobre como o amor é revolucionário, mostra-nos os caminhos para a reconstrução deste Brasil que amadrinhou. Admirar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, para aqueles que professam a Fé católica, deveria ser a lembrança do Evangelho vivo, que tem Cristo como centro. Admirar a face da padroeira do Brasil é chamado para a missão, para que nos coloquemos à disposição dos pobres e excluídos, na luta pela igualdade de oportunidades. Dom Helder Câmara, sensível e combativo como era, ainda na Missa dos Quilombos, deixou-nos uma oração:
“[…] Mariama, que se acabe, mas se acabe mesmo a maldita fabricação de armas. O mundo precisa fabricar é Paz. Basta de injustiça!
Basta de uns sem saber o que fazer com tanta terra e milhões sem um palmo de terra onde morar.
Basta de alguns tendo que vomitar para comer mais e 50 milhões morrendo de fome num só ano.
Basta de uns com empresas se derramando pelo mundo todo e milhões sem um canto onde ganhar o pão de cada dia. Mariama, Senhora Nossa, Mãe querida, nem precisa ir tão longe, como no teu hino. Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias e os pobres de mãos cheias. Nem pobre nem rico.
Nada de escravo de hoje ser senhor de escravo de amanhã. Basta de escravos. Um mundo sem senhor e sem escravos. Um mundo de irmãos.
De irmãos não só de nome e de mentira. De irmãos de verdade, Mariama”.
Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós.