Na última sexta-feira, dia 15 de março, a Comissão Externa da Câmara dos Deputados Federais, criada para fiscalizar as ações do crime da Vale S/A no município de Brumadinho, esteve no município para ouvir a população, lideranças e os movimentos que lutam pelos direitos dos moradores e dos atingidos pela mineração em Minas e no Brasil.
O deputado federal Padre João e os demais parlamentares, membros da comissão, ouviram atentamente os mais de 60 inscritos, pessoas emocionalmente abaladas por perdas irreparáveis de parentes, amigos ou mesmo pela dor e sofrimento que passam seus conterrâneos. Mas, também, foi um momento em que a Comissão Externa e o Ministério Público, ali presentes, receberam denúncias importantes sobre as ações da mineradora contra os cidadãos e que servirão de base para a elaboração de leis sobre as condutas a serem tomadas de agora em diante.
Um dos depoimentos mais emocionantes foi o da vereadora de Mário Campos, Andresa Aparecida Rocha Rodrigues. Ela falou sobre a perda de seu único filho, Bruno, vítima do crime da Vale. Segundo a mesma, “o tempo está passando e as pessoas continuam lá, ’enterradas vivas’, assassinadas pela Vale, sem tempo sequer para correr”, e ainda denuncia: “no início eram mais de 400 membros do Corpo de Bombeiros, mas hoje não passam de 100 e muitos deles estão com seus salários atrasados, mas estão lá, trabalhando; a empresa tem que ser responsável por isso. Ela deve arcar com mais efetivo de pessoal, pois o tempo é o nosso inimigo”, afirma Andresa.
“A Vale tem uma capacidade enorme de desmontar montanhas, ela crava crateras em busca do que ela julga ser importante para ela, no caso o minério, mas que da mesma forma ela cave o buraco que for necessário e o mais rápido possível para retirar as nossas jóias do fundo da lama”, finaliza a vereadora, referindo-se aos atingidos ainda não encontrados em meio a lama.
Outra denúncia grave é o descaso da Vale para com os trabalhadores, muitos, inclusive, já retornaram às suas atividades laborais. Segundo os relatos das lideranças presentes eles, os funcionários, estão sem o mínimo de acompanhamento psicológico para voltar ao local do crime, mas não têm outra escolha, pois na condição de funcionário ficam a mercê das vontades da empregadora.
Padre João indignou-se com o relato de Edir Aparecida, professora que perdeu seu marido no crime após mais de 38 anos de trabalho na mineração. “Neste momento meu movimento é de dor, é de luta!”, afirma a viúva, que ainda denuncia: hoje (15/03), 50 dias após o crime da Vale, recebi a primeira ligação da Vale. Antes disso eu só fiquei sabendo do ocorrido pela imprensa e pelas redes sociais.