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Irmão Rio doente, assassinado

No dia de São Francisco, 4 de outubro, é também, o dia do maior rio nacional, o Rio São Francisco. Em 1501, segundo relatos históricos, uma expedição exploradora descia do Rio Grande do Norte, composta por Américo Vespúcio e André Gonçalves e se depararam com a foz de um rio caldoso. Como era o dia de São Francisco, batizaram o Rio com o nome do Santo. Para os índios, o rio é Opará, que significa grande mar. Daí por diante, muitas expedições aconteceram pelo rio abaixo, povoando suas margens, construindo a história do Brasil, em busca de riquezas. Estas expedições chegaram no interior de Minas, através do Rio das Velhas e do Paraopeba, formando o que conhecemos hoje como ciclo do ouro, em Mariana, Ouro Preto, Congonhas, Sabará, Ouro Branco, Santa Luzia, Belo Horizonte….

 

 

O rio tem um papel fundamental na formação do nosso povo. 70% das águas do São Francisco é gerada em Minas. O rio percorre 2.700km e corta cinco estados: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Com o projeto de transposição, ele alcança ainda mais regiões do sertão nordestino. Suas águas abastecem mais de 13 milhões de pessoas ao longo da bacia.

 

 

O rio da integração nacional embora seja perene, atravessa uma grande crise. O volume de água vem diminuindo a cada ano, resultado da degradação ambiental nas Sub-bacias, vítimas de ocupação desordenada, da supressão da vegetação de topo de morros, da matas ciliares, do soterramento de nascentes, da compactação e empobrecimento do solo, das queimadas, do lançamento de mais de 23 milhões de toneladas de esgoto doméstico por ano, de esgoto industrial, lama de minério, como a de Brumadinho, agrotóxicos e tantas outras agressões.

 

 

Toda esta riqueza e maravilha está sendo ameaçada, sumindo, destruída. Só a Companhia Hidrelétrica do São Francisco, CHESF, possui oito usinas hidrelétricas ao longo do rio e em Minas tantas outras, como a Usina de Três Marias. Como se bastasse estes cortes na veia do rio, ainda querem construir mais uma usina gigantesca em Pirapora/MG, com 312 Km2 de área inundada.

 

 

No dia de São Francisco, vem à nossa memória o canto de São Francisco: irmã água, irmão rio. O ser humano está tratando a natureza como inimiga: destruindo, queimando, poluindo, matando. Até quando? Onde está a recuperação e proteção das nascentes, das matas ciliares, das matas de topo? Onde está o tratamento de esgoto doméstico e industrial? Onde está o controle no uso de agrotóxico que envenena tudo e mata? Onde estão os projetos de produção de água ao longo da bacia? Muito pouco tem sido feito. E se nós, enquanto sociedade, não mudarmos nosso modo de pensar e agir, não vai sobrar nada. O rio que ainda é perene pode deixar de correr. É a morte. É fim. E o Papa Francisco no lembra muito bem na sua encíclica Laudato Si’: “A terra é nossa casa comum.” Precisamos cuidar desta casa.

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