Uma audiência conjunta das Comissões de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e do Congresso Nacional foi realizada ontem no Quilombo Campo Grande, acampamento de 20 anos que reúne 2000 pessoas em Campo do Meio (MG) e está em risco de sofrer um despejo. O evento foi precedido de uma vistoria nos 11 acampamentos que compõem a área. Os parlamentares fizeram o mesmo percurso realizado pelo juiz Walter Zwicker Esbaille Júnior, que decretou a ordem de despejo afirmando que havia poucas pessoas na área, sem produção significativa. Não foi o que os parlamentares observaram: abundância de frutas, pés de café de mais de 10 anos e outras roças deram o tom da visita.
Diversos deputados estaduais e federais estiveram presentes, juntamente com o procurador do Ministério Público de MG, Afonso Henrique. Representantes da Unifal, que também estiveram presentes, fizeram um levantamento comprovando a existência no local de 418 casas de alvenaria, 1.200 cabeças de gado, 1000 porcos, 102.610 árvores e 20 mil galinhas.
Diante de um público de 500 pessoas, entre moradores da área e apoiadores de várias cidades da região, as autoridades presentes relataram o que viram na visita e se comprometeram em apoiar a permanência das famílias na terra. A audiência foi finalizada com um ato ecumênico coordenado pelo Frei Gilvander, da Comissão Pastoral da Terra (CPT): “Deus fez a terra, as águas e o ar para os homens. Mas Deus não fez as cercas, e nem deu escritura para ninguém. Assim como Jesus gostava de curar as pessoas, vocês também curam produzindo alimento saudável sem venenos. Por isso, continuar esta luta é uma necessidade espiritual”.
Judiciário promove injustiça
O deputado federal Padre João, autor do requerimento para a realização da audiência pública, denunciou na tribuna da Câmara nessa terça-feira, 27, que setores do judiciário promovem injustiça ao expulsar as comunidades tradicionais de suas terras. “A decisão judicial mostra como há setores do judiciário que são elitistas, ruralistas e não respeitam os povos e comunidades tradicionais. Setores que promovem, na verdade, injustiça no campo e na cidade. Essa visita e audiência da Comissão de Direitos Humanos é muito importante porque permite constatar que essas 450 famílias estão lá produzindo toneladas de alimentos de qualidade, contrariando o que o judiciário constatou. Esperamos que a justiça seja feita”, enfatizou Padre João.
Entenda o caso
A Usina Ariadnópolis, em Campo do Meio, foi à falência em 1996 deixando uma dívida de mais de R$ 300 milhões com o estado e com trabalhadores. Em 1998 o MST ocupou a área junto com diversos ex-trabalhadores. Hoje, o local agrega 450 famílias, e na última safra foram produzidas 8,5 mil sacas de café, 55 mil sacas de milho e 500 toneladas de feijão. Já estão plantadas 1,7 milhão de pés de diversas culturas e mudas, e para 2019 a expectativa é plantar mais 1,3 milhão, totalizando 3 milhões de mudas e pés.
No dia 7 de novembro, uma liminar de despejo foi expedida pelo juiz Walter Zwicker Esbaille Júnior a pedido do suposto dono da Usina, Jovane de Souza Moreira. A área estaria arrendada pelo maior produtor de café do mundo, João Faria da Silva, que comercializa grãos para as maiores marcas internacionais.
*Com informações do site www.brasildefato.com.br.