Diante do risco iminente da perda de direitos que a Reforma da Previdência e Trabalhista representam, tenho realizado uma jornada pelo estado afora informando as pessoas em ruas e praças, alertando sobre os impactos dos desmontes e a importância da mobilização popular para a derrubada das propostas. O que tenho ouvido e sentido é que o povo está sedento por compreender melhor o papel de seus representantes, entender o processo de tramitação das reformas e tem sede de participar, de exigir que seus direitos sejam respeitados. O povo tem sede de democracia.
Historicamente o Brasil nunca foi exemplo de país que investe em cidadania, em conscientização política e no empoderamento de seus cidadãos. Prova disso é que grande parte da população desconhece as funções específicas de seus representantes nos âmbitos municipal, estadual e federal. E em média um terço do eleitorado brasileiro não se lembra em quem votou nas últimas eleições. A maioria é indiferente quando o assunto é acompanhamento e fiscalização do trabalho dos políticos e age como se o exercício democrático se restringisse ao simples ato de votar.
Interessante destacar a influência do mundo pós-moderno na evolução da democracia. O Brasil é o maior usuário de redes sociais na América Latina e para muitos brasileiros, as redes se tornaram fonte principal de informação. Em tempos de comunicação líquida, rápida e superficial, predomina a militância e o ativismo virtual. Pessoas que manifestam sua indignação com relação à política nas redes, comentam, compartilham informações, participam de eventos virtuais, mas demonstram baixo ou nenhum engajamento no mundo real. Em grande medida isso se deve à descrença nas instituições políticas e à falta de motivação para o debate democrático. Por outro lado, a indiferença da população contribui para perpetuar o quadro atual.
Manifestações com a participação de grandes massas populares ocorreram em momentos pontuais na história do Brasil, revelando a imaturidade da nossa democracia. No início do século XX, podemos relembrar as greves operárias, que exigiam direitos trabalhistas e dignidade nas relações entre patrões e empregados. Inspirada nessa data simbólica, a mobilização é grande para a greve geral desta sexta-feira, 28, contra as Reformas da Previdência e Trabalhista, propostas pelo governo ilegítimo de Michel Temer.
Em 1984 as Diretas Já foram mais uma demonstração do poder da cidadania e a força do povo. Os brasileiros exigiram eleições diretas para presidente, abolidas em 1964. No atual cenário político volta à baila a necessidade de eleições diretas. Pesquisa divulgada por um renomado instituto na última semana revela que 78% da população brasileira defendem a cassação do mandato de Temer e 90% dos entrevistados defendem eleições diretas para presidente do país.
O povo está calejado com as perdas escalonadas de direitos, algumas consumadas, outras em curso. A PEC 241, que congela os investimentos em saúde, educação e
assistência social por 20 anos, foi um dos retrocessos aprovados neste governo. O projeto da terceirização, também aprovado, fere as leis trabalhistas e abre precedentes para a precarização das condições de trabalho. Seguindo a mesma postura do governo de não dialogar com a sociedade, foi aprovada a Medida Provisória (MP) que reformula o Ensino Médio, propondo uma formação tecnicista em detrimento de uma formação crítica dos estudantes.
O teólogo americano Reinhold Niebuhr afirmou que “A capacidade do homem para a justiça faz a democracia possível, mas a inclinação do homem para a injustiça faz a democracia necessária”. Que nossas instituições tenham a capacidade de saciar a sede do povo, sede de soberania.
*Deputado Federal Padre João.
*Artigo para o jornal Brasil de Fato – Edição desta sexta-feira, 28 de abril de 2017