O governo de Jair Bolsonaro deu ordem para que o golpe militar de 1964 fosse comemorado dentro do quartéis militares do país. A ordem foi revogada pela juíza Ivani Silva da Luz, da 6ª Vara da Justiça Federal de Brasília, atendendo ao pedido da Defensoria Pública da União (DPU), que alegou risco de afronta a memória pela verdade. Além disso, comemorar o golpe é o mesmo que aplaudir as mortes e torturas dos quais muitos de nossos brasileiros foram vítimas, além de manchar ainda mais a nossa curta história enquanto democracia.
“Como cidadão brasileiro, como parlamentar e, principalmente, como membro da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados Federais, repudio veementemente o ato do atual governo de fazer-se comemorar o golpe de 1964. Celebrar golpe/ditadura é o mesmo que aplaudir as mortes e as torturas decorrentes daquele período”, afirma o deputado federal Padre João, atual vice-líder da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados.
Na contramão da orientação de Bolsonaro, milhares de Brasileiros saíram às ruas do país, no último domingo, dia 31 de março, para protestar contra a orientação e, principalmente para relembrarem as várias vítimas daquele período. Em Belo Horizonte, cerca de 5 mil pessoas estiveram no ato, que começou na Praça da Liberdade e terminou em frente a sede do antigo DOPS na capital mineira e onde muitos militantes foram torturados, coagidos e mortos. O mandato acompanhou de perto as manifestações e transmitiu ao vivo todo o ato.
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O golpe: entenda!
No dia 1º. de abril de 1964, tropas amotinadas do Exército Brasileiro depõem o então presidente constitucional e democraticamente eleito do Brasil, João Goulart. O cargo presidencial foi declarado vago pelo Congresso Nacional ainda em presença do legítimo presidente em território Nacional. A partir daquela data tinha início os anos de chumbo no Brasil.
Os brasileiros começavam, a partir de então, a viver sob um regime autoritário, com sua liberdade e direitos civis e políticos suprimidos. Os militares massacraram toda e qualquer forma de oposição ao regime. Perseguiu, sequestrou, torturou, matou e desapareceu com os corpos de militantes da resistência democrática e de pessoas que não tinham ligação com os movimentos, apenas por denúncias infundadas.
Assim como ocorre hoje nos dias atuais, desde o golpe a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, o golpe militar contou com apoio da coalizão de todos os setores conservadores e reacionários do país e com a colaboração massiva de forças estrangeiras, que sempre estiveram “preocupadas” com as direções tomadas pelo país, assim como nossas terras e patrimônios.
Após toda a investigação sobre a ditadura e seus envolvidos, soube-se que os Estados Unidos teve grande participação para que esta intervenção militar tomasse forças. O regime militar durou mais de 21 anos, entre abusos, quebra de direitos e aumento do abismo social entre ricos e pobres, que viviam sob as altas taxas e uma inflação variável e inconstante.
Mais de 400 pessoas foram mortas pela ditadura. Muitas destas mortes eram registradas como suicídios, como é o caso do jornalista e cineasta Vladimir Herzog e acidentes misteriosos, como é o caso da mineira Zuzu Angel. A estilista Zuzu ganhou força na ditadura pelas denúncias que fazia sobre o regime instaurado, principalmente após o desaparecimento de seu filho, o militante político Stuart Angel Jones, preso, torturado, morto e dado como desaparecido político brasileiro. Sua mãe também foi morta pelos militares, de forma a parecer apenas mais um acidente de trânsito, o que mais tarde foi desmentido e revelado a todo país.
Ainda entre as listas das vítimas da ditadura está o da própria ex-presidenta Dilma Vana Rousseff. Dilma foi presa e torturada nos porões do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), no auge dos seus 19 anos de idade e foi uma das mais combatentes em prol da abertura dos arquivos da ditadura e pelo restabelecimento da verdade sobre este período, que ainda é obscuro, mesmo nos dias de hoje.
Em 2011, já como presidenta da República Federativa do Brasil, Dilma sancionou a Lei 12.528, instituída em 16 de maio de 2012, com a finalidade de apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988 e ao receber o relatório final desta Comissão, Dilma chorou. Toda a verdade sobre a ditadura ainda não foi revelada, mas apenas parte dela e a luta pela verdade e pela justiça continua.